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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Ficar mal às vezes faz bem


Por Gustl Rosenkranz

Um acidente, uma enfermidade, a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento amoroso e muitas outras coisas inesperadas e duras podem nos obrigar a nos afastar dos prazeres cotidianos e a nos confrontar com o sofrimento e com a dor. 
 
Não gostaria de expor aqui meus problemas de saúde e por isso dispenso os detalhes. Só digo: andei mal, muito mal, com muitas dores. Agora estou melhor, olho para trás e constato: não foi ruim, pois me fez parar, me vez rever muitas coisas e me fez reencontrar a mim mesmo.

Entramos facilmente no que chamo de “parafuso da vida” e começamos a girar com ele, nos acostumando com a rotina, aceitando ser levado pelo cotidiano e correndo atrás de tantas coisas, já que temos tanto para fazer e resolver, e nunca paramos. Quando paramos um pouco, então para ir atrás de prazeres imediatos e coisas sem real importância. Por mais atentos e críticos que sejamos, terminamos achando de tudo nesta vida, mas nunca ou só raramente encontramos tempo para nós mesmos, perdendo sempre um pouco mais de nossa paz e nossa saúde interior.

Vi por aí um comentário hedonista que dizia que ninguém precisa sofrer para ser feliz. Não precisei refletir muito para perceber que a questão não é de precisar de sofrimento ou não. A questão é outra: o sofrimento é inevitável! Não tem jeito. Todos nós terminamos sofrendo um dia, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.

Então, os hedonistas deste mundo que me perdoem, mas buscar constantemente a satisfação imediata dos prazeres só funciona até o dia que em que a vida resolve dar uma freada na coisa. Um acidente, uma enfermidade, a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento amoroso, um desemprego repentino e muitas outras coisas inesperadas e duras podem nos obrigar a nos afastar dos prazeres cotidianos e a nos confrontar com o sofrimento e com a dor.

O que fazer então? Relutar, desesperar-se, ignorar, fugir, entorpecer-se? Penso que não adiantaria. O melhor caminho que vejo é aceitar. Não digo aceitar passivamente e muito menos “se apaixonar” pela dor (isso seria masoquismo!). Digo aceitá-la como inevitável, mas também como quem tem algo a nos dizer, que quer talvez nos mostrar o quanto somos frágeis, que quer talvez nos pedir (ou mesmo nos obrigar) a parar para rever nossos conceitos, nosso modo de lidar com o corpo e a alma, para percebermos talvez que já giramos tanto com o “parafuso da vida” que nem percebemos mais que já estamos tontos, que já perdemos o norte, que possivelmente já nem mais sabemos direito quem somos e o que queremos.

Na verdade, a vida vive constantemente nos convidando a parar para refletir sobre o que nos faz bem ou não, mas ignoramos esses convites, até chegar o dia quando somos então obrigados a fazê-lo, querendo ou não. Talvez sofrêssemos menos neste mundo se parássemos mais vezes, entre uma coisa e outra, para refletir, se (re)orientar e se (re)encontrar, ao invés de esperar que a vida um dia nos obrigue a isso.

E então, o que acha? Não estaria na hora de você dar uma paradinha, fazer férias, descansar ou simplesmente ir à floresta e abraçar uma árvore? Pense nisso!

Texto Original: Caminhos

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